terça-feira, 26 de julho de 2011

O que vem a ser "COISA" ?

          Prezados Leitores;

          Um dia desses recebi de um amigo um e-mail que tentava, e conseguiu quase que perfeitamente, decifrar o que seria uma coisa.  Diverti-me ao ler porque a coisa era tão óbvia que não pude discordar ao mesmo tempo que tinha tanto a acrescentar.  Mas acrescentar o quê? Qual das coisas?  São infinitas as coisas...
          Não sei quem é o autor deste texto que em seguida eu passo a vocês, contudo, seja ele quem for, foi feliz na tarefa de decifrar parte da coisa.  Peço licença para divulgá-lo neste blog porque acho que tem tudo a ver com ele.
          Deixem seus comentários e quem quiser refletir sobre as coisas, permita-nos partilhar a reflexão. São tantos sentimentos que não conseguimos decifrar ou entender, mas se tornam tão simples quando chamamos estes mesmos sentimentos de "coisa".  Dá-nos a impressão que conseguimos nos fazer entender.

                                                              COISA

                 A palavra "coisa" é um bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta, qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma idéia. Coisas do português. A natureza das coisas: gramaticalmente, "coisa" pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma "coisificar". E no Nordeste há "coisar": "Ô, seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar?".
              Coisar, em Portugal, equivale ao ato sexual, lembra José Machado. Já as "coisas" nordestinas são sinônimas dos órgãos genitais, registra o Aurélio. "E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, as coisas, os seios" (Riacho Doce, José Lins do Rego).
              Na Paraíba e em Pernambuco, "coisa" também é cigarro de maconha. Em Olinda, o bloco carnavalesco Segura a Coisa tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: "Segura a coisa com muito cuidado / Que eu chego já." E, como em Olinda sempre há bloco mirim equivalente ao de gente grande, há também o Segura a Coisinha.
             Na literatura, a "coisa" é coisa antiga. Antiga, mas modernista: Oswald de Andrade escreveu a crônica O Coisa em 1943. A Coisa é título de romance de Stephen King. Simone de Beauvoir escreveu A Força das Coisas, e Michel Foucault, As Palavras e as Coisas.
            Em Minas Gerais, todas as coisas são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de "a coisa". A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trem que lá vem a coisa!".
            Devido lugar: "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça (...)". A garota de Ipanema era coisa de fechar o Rio de Janeiro. "Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca." Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas.
           Sampa também tem dessas coisas (coisa de louco!), seja quando canta "Alguma coisa acontece no meu coração", de Caetano Veloso, ou quando vê o Show de Calouros, do Silvio Santos (que é coisa nossa).
           Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino. Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim! Coisa de cinema! A Coisa virou nome de filme de Hollywood, que tinha o seu Coisa no recente Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também desenho animado, nos anos 70. E no programa Casseta e Planeta, Urgente!, Marcelo Madureira faz o personagem "Coisinha de Jesus".
          Coisa também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, "coisa nenhuma" vira "coisíssima". Mas a "coisa" tem história na MPB. No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré ("Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar"), e A Banda, de Chico Buarque ("Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor"), que acabou de ser relançada num dos CDs triplos do compositor, que a Som Livre remasterizou. Naquele ano do festival, no entanto, a coisa tava preta (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas: "Coisa linda / Coisa que eu adoro".
          Cheio das coisas. As mesmas coisas, Coisa bonita, Coisas do coração, Coisas que não se esquece. Diga-me coisas bonitas. Tem coisas que a gente não tira do coração. Todas essas coisas são títulos de canções interpretadas por Roberto Carlos, o "rei" das coisas. Como ele, uma geração da MPB era preocupada com as coisas. Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade (afinal, "são tantas coisinhas miúdas"). Já para Beth Carvalho, é de carinho e intensidade ("ô coisinha tão bonitinha do pai"). Todas as Coisas e Eu é título de CD de Gal. "Esse papo já tá qualquer coisa...Já qualquer coisa doida dentro mexe." Essa coisa doida é uma citação da música Qualquer Coisa, de Caetano, que canta também: "Alguma coisa está fora da ordem."
          Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal coisa, e coisa e tal.
         O cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. O cheio das coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa. Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma. A coisa pública não funciona no Brasil. Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura. Quando se elege, o eleitor pensa: "Agora a coisa vai." Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia!
         O eleitor já está cheio dessas coisas! Coisa à toa. Se você aceita qualquer coisa, logo se torna um coisa qualquer, um coisa-à-toa. Numa crítica feroz a esse estado de coisas, no poema Eu, Etiqueta, Drummond radicaliza: "Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente." E, no verso do poeta, "coisa" vira "cousa".
         Se as pessoas foram feitas para ser amadas e as coisas, para ser usadas, por que então nós
amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas?
         Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras cositas más. Mas, "deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida", cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles, uma coisa linda.
        Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento: "amarás a Deus sobre todas as coisas".   
        ENTENDEU O ESPÍRITO DA COISA?

2 comentários:

  1. É verdade. Quando se trata de refletir sobre as coisas é importante saber a que tal coisa seria. Usamos este termo para quase tudo, principalmente quando não sabemos definir o que exatamente estamos sentindo, vendo ou ouvindo. Uma coisa eu queria sugerir para reflexão, algo que às vezes me incomoda quando sou pego de surpresa nas coisas do coração. Por que nos apaixonamos por pessoas que não nos merece e por que temos tanta dificuldade em escapar deste sentimento que nem tivemos interesse em ter. Afinal, deveríamos escolher por quem queremos nos apaixonar já que somos donos dos nossos próprios pensamentos, por que, então não conseguimos controlar nossos sentimentos! Minha reflexão é por saber se somos ou não donos dos nossos sentimentos? Alguém pode me dizer o que me acontece?

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  2. Caro Anônimo
    Obrigada pela sugestão à reflexão. Penso que ela não acontece só com você e acredito que seja motivo para muitos refletirem. Da minha parte lhe garanto que também já aconteceu comigo e por várias vezes ao longo da minha vida. Eu creio que não somos totalmente donos dos nossos sentimentos porque eles não dependem somente de nós, mas sim, também daquele que provocou o sentimento em nós. Por isso é que costumo dizer que devemos ser responsáveis pelos sentimentos que provocamos nos outros. Ainda bem que neste caso foi um sentimento de paixão ou amor, embora, parece não ter sido correspondido. Fica então, uma outra reflexão: Se não era para dar certo por que a outra parte permitiu que você se apaixonasse por ela? Talvez, por vaidade, por vingança, por querer te ver sofrer, ou, âs vezes, nem percebeu que te despertou este sentimento! Penso que se você começar a perceber os possíveis motivos que te levaram a se apaixonar por pessoa que não te merece, pode ser que fique mais fácil para se autoconvencer de que deve deixar esta paixão de lado e, quem sabe, transformá-la numa possível amizade e amizade todo mundo merece ter. Boas reflexões. Abraço.

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